O Silêncio das Corujas

12 de julho de 2020

Um dia inteiro de caminhadas por dentro da mente. Infinitos labirintos para um andarilho se perder. Agora na vitrola toca a banda “Tyranosauru Rex”. O Marc bolan já me visitou em dois sonhos. Um dia eu conto. O Raul Seixas estava num deles e acabou fazendo um show na cozinha da minha casa. Em breve boto esse sonho na roda.
Estou vivendo exatamente aquele momento da noite onde a brisa bate e batuco as teclas escutando música. Trazendo memórias à tona
Me lembrei de uma cena muito louca que aconteceu comigo na adolescência. No dia que eu comprei o LP “Cosmic Thing” do The B-52’s. Cheguei em casa e não tinha ninguém.
Aproveitei a solidão do fim da tarde pra colocar o álbum no volume máximo. Era raro ficar sozinho numa casa com três irmãos. O movimento sempre era muito intenso.
O som estava absurdamente alto e eu dançando desvairadamente pela sala. Em transe total e curtindo a primeira audição do LP. Foi quando avistei uma coruja olhando pra mim em cima de um rádio muito antigo que era do meu avô. Um daqueles rádios da década de 40.
Parei de dançar na hora e fiquei encarando a coruja. Ela estava totalmente estática. Achei até que era uma coruja empalhada, quem sabe um dos irmãos tinham colocado ela ali. Me aproximei um pouco e o susto foi grande quando ela voou pra perto de uma prateleira e continuou me encarando.
Todas as janelas estavam fechadas. Como ela foi parar lá dentro? O Lado B do disco estava acabando. Abri uma das janelas com cuidado e a  coruja saiu voando pra fora na hora
Foi uma sensação maluca. Uma adrenalina diferente. Fiquei uns minutos em silêncio deixando a poeira baixar. Botei o mesmo LP pra rolar  no volume máximo. Continuei com minha dança solitária, torcendo pra galera demorar pra chegar em casa e eu conseguir escutar o álbum inteiro sem interrupções. Adoro esse disco do The B-52’s
Anos depois. Na mesma sala. Escutando “Jardim Elétrico” dos Mutantes. Eu já morava em sampa e passava os finais de semana no interior. Aproveitei que não tinha ninguém na casa e tasquei o som alto pra dar aquela pirada sensorial.
Estava empolgando, cantando e dançando “Virginia”, aquela emoção musical quando desenrolou a cena inacreditável. Outra coruja me encarando em cima do mesmo rádio antigo. Uma sensação estranha de dejavu tomou conta de mim. Um frio na barriga. Parei de dançar, abaixei o som, baixei a adrenalina e abri a mesma janela. A Coruja continuou paradinha. Só quando me aproximei um pouco ela saiu voando pra fora.
Isso sempre me intrigou. As duas corujas eram da mesma espécie. E estavam lá paradas me observando enquanto eu dançava com o som nas alturas. Seria a mesma coruja? Uma filha da primeira Coruja? Enfim, porque elas escolheram ficar justamente em cima do rádio?
O rádio antigo acabou participando da sessão de fotos de divulgação do disco “Pareço Moderno” e também nas fotos do “Alma da Gato”.
Espero que as corujas que me visitaram naqueles tempos tenham deixado muitas corujas por aí. Que elas estejam voando e vivendo lindamente pelo Kosmos.
O disco “Unicorn” do Tyrannosaurus Rex acabou por aqui. Foi o tempo pra capturar essa história. Em breve solto o sonho que tive com o Raul e o Marc Bolan.
 

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado.