Respiro Louco do Passado Constante ou Aerolito Número III

28 de abril de 2016

 É uma sensação louca, excitante e melancólica revisitar o passado. Acabei de colocar pra rolar na vitrola o disco “Last Splash” da banda “Breeders”.

 De imediato me bateu uma euforia Juventude Javali … aquele mesmo frio na barriga que rolou no ano que eu escutei pela primeira vez esse disco. O Kurt Cobain estava vivo. Eu estava apaixonado pelo som do Nick Cave e de quebra tinha descoberto que ele havia morado por um tempo em sampa. Ai de vez em quando eu torcia pra esbarrar com ele em alguma quebrada rock’n’roll da city.

 Eu estava destrinchando os sons dos Mutantes … cada disco um novo orgasmo musical . E o que dizer dos Secos & Molhados? E os primeiros do Caetano e do Gil? E aquelas guitarras bezouros do Lanny? Caracas, eu não sabia se ia resistir ao final de cada uma dessas primeiras audições durante la juventud.

 Eu passava as tardes tomando café e tocando violão com meus companheiros de “república. Eu compunha uma canção atrás da outra e quase todo dia a gente fazia uma seresta no apê e a vizinhança colava geral. Isso ainda na Rua Doutro Vila Nova, do lado do SESC Consolação.

 Não tinha respiro. Aliás … era Respiro Doido, não é Binho Baderna Miranda?

 Vivia uma melancolia existencial muito braba. Era bom, mas também angustiante. Eu tinha ideia do que eu faria da vida … mas como chegar até lá era a grande questão. Tem o tal do caminho louco e muito sinuoso … e o tempo pra isso acontecer.

 Música eu fazia sem parar … intuitivamente … as letras e melodias iam chegando aos montes … de tanto escutar músicas diferentes … quando pintava uma canção na minha mente … vinha mixada com um pouco de tudo que eu vivia e escutava no momento. Bom, até hoje é assim.

 Eu não tinha muita grana. Então não podia viver a noite de uma maneira tão visceral. Ainda não tinha aprendido os atalhos beatniks da existência. O lado bom disso tudo é que nos fins de semana eu passava praticamente enfiado no apartamento em estado de euforia plena.

 Escutava dezenas de discos, fitas cassetes, rádio. Lia uns livros loucos. Pegava a viola, compunha mais uma música. Ai empolgava e tinha que procurar algum amigo pra mostrar. Não tinha telefone. Chamava algum vizinho ou descia até o orelhão tentar a sorte de algum maluco estar na sua respectiva casa pra atender e colar.

 O disco do Breeders segue rolando … agora entrou “Drivin on 9” … Esse disco eu escutei milhares de vezes quando acordava pra ir trabalhar bem cedo. Quando essa canção entrava eu já estava loucão de café.

 Aliás, que droga maravilhosa essa tal de cafeína. Eu faço um café de modo que provoca alucinações e sensações reais de loucura que bate menos de 15 minutos … só não vou revelar o segredo pra ninguém fazer isso sozinho em casa … mas quem me visitar pode ter acesso a essa pérola. Se bem que alguns amigos bons passam longe desse coffe que eu faço. Porque a viagem é das braba mesmo. O lance é saber mexer o pó daquele jeito.

 Escutar os sons do passado e apontar pro futuro … nunca deixar de sentir aquela melancolia maluca e visceral que os jovens guardam dentro de peito e da mente. Coisa boa.

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